A governadora Raquel Lyra (PSD) tem ampliado o leque de aliados políticos desde que assumiu o Palácio do Campo das Princesas. Prefeitos de várias regiões do Estado, incluindo antigos arraesistas, têm aderido ao seu projeto, fortalecendo sua base administrativa. No entanto, essa movimentação ainda não se traduz em resultados práticos nas pesquisas de intenção de voto, que seguem apontando o prefeito do Recife, João Campos (PSB), à frente com ampla vantagem.
O cenário revela um descompasso entre a articulação política e a percepção popular. Apesar de conseguir atrair lideranças expressivas, a governadora não tem conseguido converter esse apoio em popularidade junto ao eleitorado. Não há dúvidas de que um dos principais entraves está na estratégia de ocupação de espaços. Raquel tem dado pouco protagonismo às lideranças locais que estão com ela nos municípios, optando por deixar cargos e funções sob influência de figuras que sequer foram votadas nas eleições de 2024.
Outro fator que pesa contra o governo é a permanência de ocupantes de cargos menores ligados a lideranças históricas dos governos Eduardo Campos e Paulo Câmara. A manutenção dessas nomeações, em detrimento dos novos aliados, gera ruídos políticos e descontentamento.
A situação, no entanto, coloca a governadora em uma verdadeira “sinuca de bico”. Promover mudanças nesse momento pode custar caro: a exoneração de servidores nessa altura do campeonato resulta em desgaste, pois cada demissão não significa apenas a perda de um emprego, mas de um círculo médio de oito votos — o do servidor, de seus familiares, vizinhos, amigos e colegas, que se mobilizam em torno da indignação.
Por outro lado, manter a situação como está também é prejudicial, pois a base política que recentemente aderiu ao governo se vê sem espaço e sem retorno prático da aliança.
O dilema expõe a dificuldade de Raquel em equilibrar o jogo político. O tempo de ajustes mais profundos já passou — esse tipo de reestruturação se faz no início da gestão, quando há margem para negociar permanências e exonerações. Agora, qualquer movimento parece ter efeito colateral.
Em resumo, Raquel Lyra enfrenta o desafio de transformar as adesões políticas em capital eleitoral. Para isso, precisará encontrar uma estratégia que vá além dos acordos de bastidores e consiga repercutir diretamente na vida da população, condição essencial para reduzir a distância que as pesquisas insistem em mostrar em relação ao adversário João Campos.
