Para quem viveu a época das famosas noites de ano em Afogados da Ingazeira, se emociona, ao saber que não mais se repetirão. Eita, mas o que marcava mesmo eram os abraços, risos, fogos e a alegria estampada no rosto das pessoas, quando as luzes se apagavam na virada do ano.
A Praça Arruda Câmara ficava tomada de gente arrodeando, num vai e vem disparado que o cabra terminava a noite de cambito inchado. As famílias trabalhavam os doze meses para comemorar a noite de ano. Cada um que comprasse a melhor roupa, e eu como não tinha condições de adquirir nas lojas, minha saudosa mãe comprava um pedaço de retalho e costurava em casa, uma calça e uma camisa que eu repetia a dita cuja no natal e no ano novo…
Com uns trocadinhos no bolso eu fazia a festa, nos arredores da praça, comendo abacaxi, rolete de cana de açúcar, mangas e as inesquecíveis garrafinhas de Ki-Suco, minha maior fartura da noite. Acompanhada de uma garra melada de açúcar, o vermelhinho tinha um sabor inigualável, propício com a noite de festa. Engraçado que os meninos de mió condição riam de mim, deliciando o sonho de outras crianças que sequer tinham condições de comprar um zorro.
Mas eu nem ligava, afinal estava enchendo o bucho e luxando na maior felicidade. No beco de Zezé, eu ia espiá os jogos iluminados por candeeiros e uma turma de cabas sabidos da molesta. Tantos coitados da roça caíram no tapia que ficava jogando e perdendo pro banqueiro. Lembro de um que perdeu todo trocado que tava no bolso e adispois foi chamar a polícia.
Moradores da zona rural faziam finca pra cidade na noite de ano. A Praça Arruda Câmara ficava pequena para a multidão. A marquise aberta atraia um bocado de jovens. O Pantera fazia a sonoplastia com as músicas do sucesso da época, “vamos abrir a roda, estremecer” e Roberto Carlos no parque de diversão tocando a música Caminhoneiro.
As gatinhas da época pra se conquistar precisava de um bom papo e assim que havia uma sinalização positiva, o camarada tinha que falar namoro aos pais. Elas tinham hora pra chegar em casa e muitas nem beijava o maripouso na frente do coroa, hoje denominado pela nova geração. Mas não vamos nos alongar, porque hoje é noite de ano e daqui a pouco chega a meia note e haveremos de ver apenas uma magote de fogos de artifícios e uma túia de gente se abraçando, desejando sucesso no ano vindouro.